sexta-feira, 8 de julho de 2011

O exercício da paciência



Por voltas nos deparamos com um sentimento: a raiva. As vezes beiramos até o ódio. Este é o nosso constante dilema, o que fazer com este sentimento. Se guardamos nos enchemos dele, se os soltamos, muito provavelmente ofenderemos alguém ou criaremos uma situação desagradável.
Bom, talvez, possamos conviver com ela, de forma harmoniosa... difícil, mas possível.
“Por um lado, ter um inimigo é muito ruim. Perturba nossa paz mental e destrói algumas de nossas coisas boas. Mas, se vemos de outro ângulo, somente um inimigo nos dá a oportunidade de exercer a paciência. Ninguém mais do que ele nos concede a oportunidade para a tolerância. Já que não conhecemos a maioria dos cinco bilhões de seres humanos nesta terra, a maioria das pessoas também não nos dá oportunidade de mostrar tolerância ou paciência. Somente essas pessoas que nós conhecemos e que nos criam problemas é que realmente nos dão uma boa chance de praticar a tolerância e a paciência.” – Dalai Lama.
Pois é, se não tivermos situações que nos levem a visita dos sentimentos negativos não temos como avaliar nossos sentimentos positivos. Um depende do outro.
Primeiro ponto é admitirmos que somos humanos, com tudo que é inerente a este estado, e mesmo os piores sentimentos, fazem parte de nós. Só este ato já nos ajuda a convivermos melhor com eles. Negá-los é impossível. A convivência com nossas sombras é um treinamento diário. Um verdadeiro exercício.
Se atacamos alguém, independente do motivo, temos que estar ciente que o problema está em nós. Estamos jogando ao outro o nosso descontrole emocional. Não há necessidade de extravasar a raiva em outros e sim entendê-la, controlá-la e dissipá-la. Nós somos como filtros de energia, emitimos as boas, recebemos e dissipamos as ruins. Pode ser que soe meio utópico, mas não, isto se torna possível apenas prestando atenção à estes momentos. Agir no impulso é se distrair. Se estamos atentos, identificamos este momento e pronto, já estamos no caminho de dissipá-lo.
Prática da Recordação, desligar o robô que existe em nós e nos tornarmos seres pensantes. O que nos dá raiva é que por inúmeras vezes somos seres instintivos, mais próximo ao animal que ao humano. Parece difícil, mas é apenas disciplina.
Como Dalai Lama foi citado no início do texto, vamos terminar com um pequeno conto Budista para ilustrar este tema:

Um Samurai grande e forte, de índole violenta, foi procurar um pequenino monge.

- Monge – disse, numa voz acostumada à obediência imediata. – Ensina-me sobre o céu e o inferno!

O monge miudinho olhou para o terrível guerreiro e respondeu com o mais absoluto desprezo:

- Ensinar a você sobre o céu e o inferno? Eu não poderia ensinar-lhe coisa alguma. Você está imundo. Seu fedor é insuportável. A lâmina da sua espada está enferrujada. Você é uma vergonha, uma humilhação para a classe dos samurais. Suma da minha vista! Não consigo suportar sua presença execrável.

O samurai enfureceu-se. Estremecendo de ódio, o sangue subiu-lhe ao rosto e ele mal conseguiu balbuciar palavra alguma de tanta raiva. Empunhou a espada, ergueu-a sobre a cabeça e se preparou para decapitar o monge.

- Isto é o inferno – disse o monge mansamente.

O samurai ficou pasmo. A compaixão e absoluta dedicação daquele pequeno homem, oferecendo a própria vida para ensinar-lhe sobre o inferno! O guerreiro foi lentamente abaixando a espada, cheio de gratidão, subitamente pacificado.

- Isso é o céu – completou o monge, com serenidade.

O pacto com a felicidade

Temos duas escolhas que podemos fazer: a busca da felicidade ou a prisão em nosso egoísmo.
Vale a pena ler um pensamento de Chico Xavier, na página "Textos de outros autores", que expressa bem uma forma de ver a vida com mais consciência. Boa leitura!

Podemos viver todos os dias somente hoje!



Acho que quase todos nós já tivemos algum sonho o qual se realizou no futuro. Os “sonhos premonitórios”, como é chamado e estudado em diversas épocas e maneiras nos leva a uma dimensão atemporal. Somente estes fatos já nos levaria a repensar a lógica do tempo como é vivida em nossa realidade. Mas há outros momentos que também nos leva a repensar esse tema.
Se fecharmos os olhos em um ambiente escuro, ao fundo possibilitarmos escutar a voz de um ente que já morreu, a fragrância de seu cheiro poder ser suavemente sentida, assim como aquela música que ela muito gostava estar entre os sons que o silêncio nos traz, podemos ter de volta o sentimento exato daquela situação vivida. Como se aquele momento se perpetuasse em nossa memória, à desprezo dos relógios insistisse em estar presente, mesmo sendo um evento passado.
A fotografia tem esse poder. Congelar momentos. Exatamente como aconteceu, imortalizando cenas, pessoas, sentimentos, cheiros, luzes...
O simples ato de pensar nos leva a lugares, vivências que ultrapassam nossa percepção do ontem, hoje ou amanhã.
A realidade criada pelo envelhecimento nos dá uma falsa noção de começo e fim, até porque recomeçamos todos os dias nossas vidas. São ciclos, intermináveis ciclos, sem começo e nem fim. Hora vivemos o ontem, muitas vezes vivemos o amanhã, o presente não passa de uma fração. Imperceptível.
Nós somos um amontoados de lembranças? Não, somos experiências, vezes vividas por nós, vezes observadas, e estas experiências estão conosco em todos nossos momentos, inclusive as expectativas do futuro. Esta perspectiva pode nos levar a não ter preocupação pelo futuro, já que ele não existe, ele é o agora, a soma de todas nossas experiências? Ao contrario, ela nos proporciona a possibilidade de vivermos muito mais intensamente, já que estamos vivendo todos os momentos em um só.
“Uma árvore em flor fica despida no outono. A beleza transforma-se em feiúra, a juventude em velhice e o erro em virtude. Nada fica sempre igual e nada existe realmente. Portanto, as aparências e o vazio existem simultaneamente.” - Dalai Lama.
Mas fatalmente nos deparamos com o conceito da morte. E então, seria este o limite de nossas experiências? A famosa Morte, tema tão temido por muita gente. Como estamos falando da não existência de tempo, podemos admitir a não existência de início nem de fim, a não existência da morte, sendo ela talvez a impossibilidade de não podermos imaginar o mundo sob as diversas faces que ele nos oferece.
“Os covardes morrem várias vezes antes da sua morte, mas o homem corajoso experimenta a morte apenas uma vez.” - Wlliam Shakespeare.